• Basquete
  • Sep, 2020
  • Existe um viés no mercado de apostas de Total de Pontos da NBA?

Tendo já analisado por que motivo os corretores de apostas assumem posições nos mercados de spreads de pontos, Joseph Buchdahl direciona agora a sua atenção para o mercado de Total de Pontos na NBA. Continue a ler para descobrir se existe um viés em determinados mercados de apostas da NBA dos quais os corretores de apostas possam beneficiar.

No mês passado, publiquei um artigo de duas partes que investigava o motivo pelo qual os corretores de apostas poderiam utilizar um viés num mercado de apostas de spread de pontos que se afasta da eficiência perfeita. O negócio dos corretores de apostas é fazer lucro. Se puderem agir de modo a aumentar esse lucro para além dos valores publicados, por que razão não o farão?

Se os apostadores apostarem mais num lado do mercado do que noutro, os corretores de apostas podem aumentar as suas receitas aplicando um viés no spread contra as preferências dos apostadores, desde que esses mesmos apostadores não notem. Este movimento torna-se mais interessante se consideramos que investigações académicas anteriores revelaram que os apostadores poderão ter uma tendência para apostar excessivamente num spread de pontos favorito.

Ao rever as provas de um conjunto de dados históricos da NBA, descobri que os maiores favoritos do handicap cobriram os seus spreads menos de 50% das ocasiões. Se os apostadores apostassem excessivamente nestes spreads, não restam dúvidas de que o corretor de apostas conseguiria aumentar as suas receitas. No entanto, regra geral, os favoritos e os desconhecidos como um todo têm um comportamento muito semelhante.

E no que respeita ao mercado de apostas de total de pontos? A Pinnacle comunicou os valores da BetShare (a percentagem de clientes que apostam num lado e noutro) para muitos dos seus mercados no seu feed do Twitter. Quando analisei estes valores, descobri que para cada modalidade desportiva (NHL, NBA, MLB, NFL, futebol e ténis) a quota de apostas “por cima” era sempre superior à quota de apostas “por baixo”.

Em 334 jogos, a média de apostas “por cima” da BetShare era de 62%. Embora não possamos ter a certeza de que esta assimetria se converta também no volume de apostas, a implicação é que os apostadores poderão ter um incentivo de lucros a aplicar um viés ao mercado de total de pontos da mesma forma que aplicam ao mercado de spread de pontos. Neste artigo, pretendo rever as evidências do mesmo conjunto de dados da NBA que utilizei no mês passado.

Por que motivo poderão os apostadores apostar por cima?

Por que motivo poderão os apostadores preferir apostar “por cima” num mercado de total de pontos ou total de cestos? Uma explicação possível é a aversão à perda, a tendência das pessoas para preferirem vivamente evitar perdas em comparação com a aquisição de ganhos.

Considere a natureza de uma aposta “por cima”/”por baixo”. Em virtude da sua própria natureza, uma aposta “por baixo” é automaticamente vencedora no início de um jogo, permanecendo assim até serem marcados pontos (ou cestos) suficientes para transformá-la em perdedora. Pelo contrário, uma aposta “por cima” começa como perdedora e assim permanece até que pontos (ou cestos) suficientes sejam marcados para que se transforme numa vencedora.

Se os apostadores forem sensíveis à aversão à perda neste contexto, poderão preferir a possibilidade de ver uma aposta perdedora transformar-se numa aposta vencedora em vez do contrário.

Os psicólogos advogam que perder é duas vezes mais penoso do que a glória da vitória. Se assim for, podemos razoavelmente esperar duas vezes mais apostadores a favorecer as apostas “por cima” (“perdedoras para vencedoras”) relativamente aos apostadores a favorecer as apostas “por baixo” (“vencedoras para perdedoras”). As percentagens da BetShare observadas pareceriam então fazer sentido.

Os corretores de apostas estão a explorar os vieses nas quotas de apostas nos totais de pontos na NBA?

Na minha amostra de 334 apostas, o subconjunto de jogos da NBA demonstrou uma divisão de 64%/36% a favor das apostas “por cima”. Se estes valores fossem também representativos do montante de dinheiro apostado, então, utilizar um viés no mercado de apenas 1% (49%/51% de ganhos para apostas “por cima” vs. ganhos de apostas “por baixo”) aumentaria as receitas de uma teórica margem de lucro de 2,5% para 3,0% e para 3,6% para um viés de 2%. Existem provas disso?

Utilizando a mesma amostra de 15 508 jogos da NBA de 12 épocas que para a minha análise de viés de spread de pontos, 7553 jogos (ou 48,7% do total) terminaram com totais de pontos acima da cotação de preço de fecho, 7750 (ou 50%) terminaram com totais de pontos abaixo da citação de fecho e 205 (ou 1,3%) corresponderam exatamente à citação.

Descontando os 205 jogos que corresponderam exatamente à previsão do mercado no fecho do corretor de apostas, isto representa uma divisão de 49,4%/50,6% na direção que previmos na hipótese inicial.

Não é, no entanto, estatisticamente significativo, com um valor de p de 0,11 (ou 11%) para um teste de qui-quadrado. Isto equivale a dizer que em 11% das vezes este resultado poderia ocorrer por acaso, pressupondo que os corretores de apostas não aplicaram intencionalmente um viés no seu mercado de total de pontos na NBA contra as apostas “por cima”. Os valores de p de, no mínimo, 0,05 e, de preferência 0,01 ou até mesmo 0,001, são desejados antes de podermos descartar razoavelmente a possibilidade de que somente o acaso está em causa.

Isto não implica, no entanto, que os corretores de apostas não estejam a utilizar vieses nos seus mercados de totais de pontos na NBA. Caso esta divisão persistisse numa amostra de jogos muito maior, o significado estatístico poderia eventualmente ser alcançado. Contudo, com base apenas nestes dados, não conseguimos confirmar se tal mercado com vieses é um fenómeno real.

Existem totais de pontos mais suscetíveis a vieses que outros?

No que respeita aos spreads de pontos, não vamos desistir já. Conseguimos encontrar vieses mais significativos para diferentes totais de pontos? Talvez os apostadores prefiram desproporcionadamente apostar “por cima” em jogos com totais de pontos mais elevados – vamos ver.

O gráfico abaixo mostra a percentagem cumulativa de ganhos em apostas “por cima” e “por baixo” com jogos na ordem decrescente do total de pontos publicado à data do fecho. Ignorando as flutuações associadas à dimensão reduzida da amostra no início, os jogos com linhas de fecho acima da média (203 pontos) registam proporcionalmente menos apostas “por cima” em comparação com os jogos com linhas de fecho abaixo da média.

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Dos 7530 jogos com linhas de fecho superiores a 203 pontos, 48,8% foram vencedores (e 51,2% perdedores), excluindo os 205 jogos cujos totais de jogo corresponderam exatamente à linha de fecho. Este desvio da expetativa de 50-50 é muito pouco significativo em termos estatísticos (teste de qui-quadrado, valor de p = 0,04). Por outro lado, para os jogos com linhas de fecho de 203 pontos ou menos, a divisão foi de 49,9%/50,1%.

Contudo, é obviamente difícil argumentar com base no gráfico que quanto maior for a linha de total de pontos, mais provável é que um corretor de apostas esteja a utilizar um viés contra as apostas “por cima”. Os totais de linha mais altos acima de 225 pontos, por exemplo, registam ganhos em apostas “por cima” mais de 50% das vezes. Isto poderá ser uma consequência da variância de uma amostra mais pequena. Alternativamente, poderá implicar um quadro muito mais complicado do que a simples explicação de as apostas “por cima” terem mais linhas com viés.

No que respeita aos spreads de pontos, poderemos optar por testar o significado estatísticos em qualquer ponto do gráfico. Isto é apresentado abaixo para o valor de p do teste de qui-quadrado.

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Sim, existem pontos na série em que a probabilidade de divergência da expetativa de 50-50 ocorrer por acaso é pequena (<1%). No entanto, é questionável se qualquer destes pontos é verdadeiramente significativo se aplicássemos a correção de Bonferroni para contabilizarmos as várias hipóteses de encontrarmos algo estatisticamente significativo.

Os corretores de apostas beneficiam dos vieses de Totais de Pontos?

Uma advertência potencialmente significativa para esta análise, e para a análise do spread de pontos do mês passado, é que os dados da linha são oriundos de vários corretores de apostas e não de apenas um.

É possível, embora não seja provável aqui, que diferentes corretores de apostas a contribuir para este conjunto de dados se comportem de formas ligeiramente diferentes no que respeita à forma como tratariam uma aposta da NBA. Se os vários comportamentos estivessem em conflito, o quadro geral que poderia resultar da análise coletiva dos dados poderia, em última instância, revelar um quadro passível de induzir em erro.

Em termos mais gerais, no que respeita aos spreads de pontos, há uma sugestão sedutora de que os corretores de apostas manipulam algumas das suas linhas de totais de pontos em qualquer mercado de apostas na NBA com vista a explorar apostadores pouco sofisticados, na tentativa de aumentar as suas receitas acima da margem de lucro publicada, mas esta análise não consegue confirmar sem margem de dúvida, nem completamente descartar essa hipótese. Real ou não, da perspetiva do apostado, a dimensão de qualquer viés mal chega para cobrir a margem média do corretor de apostas.

A potencial existência de vieses deliberados poderá ser de uma natureza reduzida e em média, pelo menos nas linhas de apostas de totais de pontos da NBA, estão próximas de serem eficientes em termos de mercado.

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